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O doutor em aquicultura Fernando Kubitza fala sobre o Mercado da Piscicultura no Brasil e de como produzir um peixe que agrade ao paladar dos consumidores

Entrevista de 12/7/2013

 

O momento atual é de atender o mercado interno, que possui uma grande demanda.

Sem dúvida alguma o doutor em Aquicultura e Nutrição de Peixes Fernando Kubitza é um dos maiores especialistas do Brasil quando o assunto é Piscicultural. Com grande experiência na criação de espécies como a Tilápia, o Engenheiro Agrônomo fala sobre pontos como: o Mercado, a alimentação, a qualidade da água e outros aspectos que envolvem a piscicultura de nossos tempos.


1. Qual é o panorama do mercado da piscicultura em nosso país?

Crescente, visto a falta de pescado no mercado e o ganho em popularidade dos produtos da piscicultura, devido à padronização na qualidade, oferta contínua e preços estáveis.



2. E para entrar neste mercado o investidor, com certeza, precisa se atentar em alguns detalhes. Quais são eles?

Planejamento do empreendimento (técnico e financeiro – capital de giro).

Estudo (conhecimento) do mercado.

Orientação técnica especializada.


3. Das espécies cultivadas em nosso país, qual é a de maior demanda?

A tilápia, mais cultivada hoje com cerca de 140 mil toneladas ano produzidas.


4. Alguma outra espécie aponta como promissora na demanda do mercado?

O pintado e o pirarucu, assim como peixes redondos como o tambaqui, pirapitinga, pacu e híbridos entre estes.

O pirarucu é a espécie de maior potencial, pelo rápido crescimento e alta qualidade da carne.


5. Um fator importante para o sucesso da criação intensiva de peixes é a qualidade da água. Qual a água ideal? Como tê-la nos tanques de piscicultura?

O monitoramento e a correção da qualidade da água é fundamental na criação de peixes em tanques de terra (tanques escavados) e na criação intensiva em sistemas fechados com recirculação de água. Assim, o criador deve ter um bom conhecimento sobre a dinâmica da qualidade da água e dos fatores que a influenciam, particularmente o manejo da alimentação. Quando a taxa de alimentação (quantidade diária de ração oferecida) excede a capacidade do tanque em assimilar os resíduos gerados na digestão dos peixes e no seu metabolismo, começa a ocorrer uma degradação da qualidade da água, prejudicando o crescimento, a saúde e, até mesmo, a sobrevivência dos peixes. Daí a importância de usar rações de alta qualidade, que são mais digestivas e causam menor impacto sobre a qualidade da água nos tanques de criação.

Na criação de peixes em tanques-rede em grandes reservatórios, o criador pouco pode fazer em relação à correção da qualidade da água, devido ao grande volume de água destes reservatórios. Apenas pode, e deve, se certificar de selecionar o local adequado do ponto de vista de qualidade de água para o posicionamento dos tanques-rede.


6. Para a fase de pós-larvas qual é a ração ideal? No que o piscicultor precisa se atentar para ter uma ração que atenda as exigências nutricionais das pós-larvas?

Para pós larvas e pequenos alevinos, é necessário usar uma ração na forma de pó fino, com cerca de 40% de proteína (exigência da maioria das espécies de peixes tropicais onívoras, como a tilápia, o pacu, o piauçu, o matrinxã, as carpas, os lambaris, dentre outras. Para pós-larvas de peixes carnívoros que possuem habilidade de aceitar ração, os níveis de proteína devem ser da ordem de 45 a 50%.

Rações de alta qualidade para pós-larvas de peixes devem ser extrusadas antes de serem finamente moídas, o que impede a seletividade das pós-larvas na alimentação e melhora a digestibilidade e o valor nutritivo das rações. Devem também receber suplementação vitamínica reforçada, para compensar perdas de vitaminas no processo e por dissolução quando em contato com a água.


7. E quando o peixe chega a fase juvenil, é preciso substituir a ração?

Conforme os peixes aumentam de tamanho e peso, o tamanho dos peletes ou partículas de ração devem ser aumentado. Assim, uma pós-larva começa a se alimentar com uma ração em pó, finamente moída. Quando chega a o peso de 3 a 5g já é capaz de abocanhar e engolir um pelete de 2mm e, com porte acima de 20 a 30g já consegue se alimentar com peletes de 3-4mm. E assim progressivamente o criador vai ajustando o tamanho dos péletes ao tamanho dos peixes.


8. Podemos dizer nos dias atuais que o investimento na piscicultura é um investimento seguro?

Podemos dizer que é uma boa oportunidade de investimento. Mas como qualquer atividade de produção animal, que tem suas bases biológicas e sofre influência de diversos fatores, precisa ser muito bem planejado e operado com técnica e competência, não apenas no momento da produção, mas também na comercialização. Com um bom planejamento e adequado suporte técnico, a piscicultura é seguramente a atividade mais rentável de produção animal para mesa.


9. E quanto à exportação. Mercados como o asiático podem ser uma boa alternativa de negócio para as pisciculturas brasileiras?

Ainda não. O momento atual é de atender o mercado interno, que possui uma grande demanda por pescado ainda insatisfeita. E dispostos a pagar bons preços por pescado de alta qualidade. Um caminho aberto para os produtos da piscicultura, visto que a produção pesqueira está estacionada, fazendo com que o país dependa da importação de pescado para atender sua demanda. A piscicultura rapidamente substituirá estas importações.


10. E por fim. Qual o peixe que os consumidores procuram?

Um peixe produzido com qualidade, com garantia de frescor, sempre disponível no mercado, com preços competitivos, de preferência apresentado na forma de cortes sem espinho. Esse padrão de qualidade somente é possível de ser mantido através da criação controlada (piscicultura).

É por isso que peixes como a tilápia caíram no agrado do brasileiro, mesmo tendo no passado uma péssima reputação junto aos consumidores. Produzida com qualidade e técnica, a tilápia é hoje o peixe mais produzido no Brasil e o mais comercializado nas grades redes de supermercados. O tambaqui e seus híbridos também são muito apreciados, em particular na região norte e centro-oeste do país e, com cortes diferenciados, também vem conquistando espaço nos supermercados da região sudeste e sul.

O pintado e o pirarucu encabeçam a lista dos peixes nobres do Brasil e logo ganharam, com a aquicultura, maior destaque nos supermercados do país. O Brasil conta com um grande número de espécies de peixes com potencial para criação. Portanto, não faltarão opções de pescado para os brasileiros apreciarem.

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