top of page

A PRODUÇÃO DE TILÁPIA NO BRASIL

14/2/2013

Nesta entrevista o doutor em aquicultura Fernando Kubitza fala sobre a produção de tilápias no Brasil, suas regiões mais favoráveis, sua atual situação frente ao mercado nacional e internacional.

O mercado de tilápia e de pescado em geral no Brasil continua com demanda maior do que a oferta

Como está o mercado da tilápia no Brasil?

Kubitza: O mercado de tilápia e de pescado em geral no Brasil continua com demanda maior do que a oferta, a ponto do Brasil continuar importando grande quantidade de pescado. Estimamos que a produção atual de tilápia se aproxime de 210.000 toneladas/ano (o que corresponde a aproximadamente 1 kg per capita/ano). Praticamente toda essa produção é destinada ao mercado interno, que paga melhor preço aos produtores (frigoríficos) do que o mercado internacional, mesmo com a valorização do dólar perante o Real este ano. Acredito que a exportação somente começará a se viabilizar com uma taxa de câmbio acima de BRL 2,80/USD. O filé fresco de tilápia, qualidade exportação, tem sido comercializado nas grandes redes de supermercados do Brasil a preços que variam entre os R$26,00 e R$30,00 o quilo. Este preço se aproxima do preço do salmão eviscerado.

 

 


Em qual região do Brasil está concentrada sua maior produção?

 

Kubitza: A tilápia é produzida em praticamente todas as regiões do país, exceto na região norte onde sua produção é inexpressiva. A região nordeste é a principal região produtora, com destaque aos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia. Na região sul, o Paraná é o maior produtor. São Paulo se destaca no sudeste, com grande expansão nos cultivos nos últimos 10 anos.

 


Nos últimos anos nos deparamos com um cenário de constante crescimento da produção de tilápia no Brasil. Em sua opinião, ao que se deve este crescimento?

 

Kubitza: Este crescimento se deve primeiramente a grande aceitação do mercado aos produtos da tilápia cultivada, particularmente quando os frigoríficos começaram a destinar ao mercado interno filés frescos com padrão exportação. Em pouco tempo a tilápia se livrou de sua antiga imagem de peixe pequeno, cheio de espinho e com sabor de barro, características comuns nas tilápias provenientes da pesca nos reservatórios das hidrelétricas em São Paulo e outros estados. Outro fator importante é a oferta constante de produto de alta qualidade, que ajuda a conquistar a confiança dos consumidores em relação ao produto. Um terceiro fator importante para o crescimento da produção foi o domínio da tecnologia de produção em tanques-rede, que tem viabilizado o aproveitamento dos grandes reservatórios das hidrelétricas e açudes públicos do país. O quarto fator é que há um déficit na oferta de pescado no país. O brasileiro come pouco pescado, não por falta de hábito, mas sim por falta de produto e de confiança na qualidade do pescado. A oferta regular de tilápias inteiras e filés de tilápia de alta qualidade e frescos foi um fator decisivo para o consumidor adquirir confiança nos produtos da tilapicultura.

 

 


Exportação ou mercado interno. Qual o melhor caminho atualmente para o produtor de tilápias?

 

Kubitza: A exportação foi o foco principal dos grandes empreendimentos de produção de tilápia entre 2004 e 2005. A partir de 2006, com a grande valorização do Real perante o dólar, a exportação deixou de ser vantajosa e o mercado interno se tornou mais atrativo aos frigoríficos. Na região sudeste, grande parte da tilápia produzida tem dois principais destinos: os supermercados e os pesque-pagues (venda de tilápia viva). Enquanto o volume de comercialização para os pesque-pagues tem se mantido praticamente estabilizado nos últimos anos, os supermercados a cada ano tem comercializado volumes cada vez maiores de tilápia (filés e peixes inteiros ou eviscerados), estimulando o crescimento da produção. Os supermercados, que no passado costumavam comprar tilápia diretamente dos produtores, hoje procuram comprar de frigoríficos com inspeção sanitária (SIF ou SIE). Assim, os produtores cada vez mais dependerão dos frigoríficos para escoar sua produção.

Qual região é mais favorável para o consumo e para a produção?

Kubitza: Praticamente o Brasil inteiro está consumindo tilápias. No entanto, os grandes mercados continuam sendo as capitais e grandes centros urbanos nas regiões nordeste, sudeste e sul. Regiões mais quentes, como o centro-oeste e nordeste são mais favoráveis à produção, pois a temperatura da água permanece adequada durante a maior parte do ano. Nas regiões sul e sudeste há uma redução no crescimento dos peixes durante o inverno, prejudicando os resultados zootécnicos. No entanto, os produtores nessas regiões estão mais próximos dos grande mercados e contam com rações cerca de 10 a 20% mais baratas do que os produtores  na região Nordeste. Isso de certa forma compensa parte da desaceleração no crescimento registrada nos meses de inverno.

 

Qual é o caminho para a expansão da tilapicultura no Brasil?

Kubitza: Continuar o aproveitamento dos grandes reservatórios com o cultivo em tanques-redes. Para isso é necessário que os governos estaduais e federais agilizem o processo de concessão do uso da água (outorga) e de emissão das licenças ambientais para a operação dos empreendimentos, gargalo que tem hoje limitado os investimentos na implantação de novos cultivos e expansão dos já existentes. Outra necessidade importante é o contínuo desenvolvimento / aprimoramento / e difusão de tecnologia, em especial no que diz respeito ao manejo da produção, melhoramento genético, nutrição e sanidade (biossegurança).

E por fim, para o investidor que deseja entrar neste segmento com a produção de tilápias, quais são as recomendações?

Kubitza: Os investidores devem procurar orientação profissional especializada que possa lhe ajudar a compreender melhor como se dá o processo produtivo, quais obstáculos enfrentará na implantação e operação do empreendimento, como está estruturado o mercado. Diante disso, deve empreender um estudo da viabilidade econômica do empreendimento (sob orientação especializada), avaliando diferentes cenários de produção e mercado, e considerando os potenciais riscos e oportunidades do negócio.

bottom of page